Identidade Visual

O sorriso elegante traduz a certeza de sua ascendência real. A poesia do barulho da vida pulsante, ao compasso do coração. O penteado, o enfeite, o lenço cuidadosamente ajeitado no bolso do paletó. Mas sobretudo, o encontro. Quem sabe o que passava na cabeça daqueles jovens fotografados? E se fosse possível viajar no tempo da história e sentir a luz daquele registro? O que veio depois? O que aconteceu antes?Como é o agora daquele lugar onde o momento aconteceu? Os clubes sociais negros carregam em seus registros, muito mais que boas fotos. São imagens de poder amor, poder amar, poder de vida. A coletividade que se edifica em todo um aparato, com estatutos e processos organizativos, é feita de tijolos de memória.

Acervo Museu Comunitário Treze de Maio

De repente, entre um registro e outro, os bailes se confundem. Os sorrisos, os relacionamentos, os amores, os afetos. Como nos ensina bell hooks, “quando nos amamos, sabemos que é preciso ir além da sobrevivência”. Esta arte e prática de amar, se transformam em ecos da história. O traço do encontro entre braços e abraços, é redesenhado no tempo, se torna símbolo. Os olhares atentos de viajantes na memória dos Clubes, costuram os caminhos e emocionados percebem no bailado da foto, as linhas de movimentos conjuntos. A poucos dias de um 24 de Agosto, duas meninas mulheres da pele preta conversam e escrevem sobre amor, tendo como convite uma imagem em preto e branco, onde a negritude é registrada como afeto e elegância. É uma expressão de potência poética e política de vidas negras reunidas e poderosas. Poder de amor, que atravessa gerações e no agora, inspira carinho, respeito e responsabilidade nos aprendizes que se envolvem com as encruzilhadas de histórias vividas dentro dos Clubes Sociais Negros: patrimônios de vidas negras como vidas.

Por Aline de Moura Rodrigues e Fernanda Vitória Nunes